sábado, 11 de julho de 2009

O pato e a palavra


Um dia eu ouvi atrás da porta, e entre as tantas conversas que interceptei, guardei uma que me chamou mais atenção. Tratava-se das coisas remosas. Daí surgiu a pergunta: o que é remoso?
Depois de ouvir uma receita inteira de pato ao molho pardo, sem sangue, como enfatizou uma das partes, já que a conversa ocorrera entre minha mãe e a vizinha do 102 – entendi que aquilo era só comida. Mas... será mesmo?!? Continuei em dúvida.
No fim, minha mãe explicou: o que sai da boca é que é remoso; esse pato é apenas alimento, depois que passa pelo aparelho digestivo vira cocô e vai parar na privada, mas o que sai da sua boca não. As palavras vêm do coração e quando são ditas com ódio, raiva ou qualquer coisa desse tipo fazem mal a você e a quem ouve. Machucam, por isso são remosas.
Com um “é mesmo” de espanto e concordância por parte da vizinha, a história se encerrou e outra ganhou pauta. Remosa ou não, a conversa das duas continuou por mais meia hora, até que se despediram e eu voltei ao meu mundo, como se nada tivesse acontecido.


Por Lívia de Oliveira

Um comentário:

Ju disse...

Amei, lica!!! Bem diferente do que voce costuma escrever,mas está ótimo mesmo. Beijos