sábado, 31 de outubro de 2009

IN-VERSOS

Hoje acordei e resolvi rasgar as cartas de amor nunca escritas. "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas"*. Joguei fora o presente nunca embrulhado. Abri a caixa de Pandora e me restou somente a esperança, a última praga lançada à condição humana, esperar. Me limpei do suor nunca sentido, do cheiro nunca transpirado. Ai, o perfume inebriante adocicado. Senti ao sussurrar-te nos ouvidos o meu canto de paixão. Tirei o peso do teu corpo daquela dança nunca acabada. Tua mão me enlaçando me fez voar sem tirar os pés do chão. Naquele instante éramos os únicos ali. O maldito beijo não dado. Toquei de leve os teus lábios e senti jorrar pecado deles. Quando os mordi, voltei aos meus antepassados, pois Adão e Eva também erraram ao morderem um fruto proibido. Tentei acertar e errei. Ao errar, acertei. Sinto saudades daquilo que nem cheguei a sentir. O que senti não me traz saudades. Nos meus sonhos sempre estamos correndo e buscando algo. Nunca escolhemos as portas certas, nem as mesmas portas. Mas ontem, entramos no mesmo labirinto e lá nos perdemos. Quando vamos sair ou nos achar? Não sei. Mas sempre somos a seta que busca o alvo, a caça que foge do caçador, a estrada que sempre encontra curvas. Um dia esses caminhos irão se cruzar. Não por agora, é claro.



[dedicado a ELE, o moço e o muso. É sempre bom te encontrar]




Por Juliana Belo
*Cartas de amor, de Álvaro de Campos

domingo, 25 de outubro de 2009

De repente, 1 ano!

Pois é, o tempo passou!... Esse blog que vos fala completou um ano mês passado; dia 24 de setembro, pra ser mais exata. Ao longo desse ano, vocês acompanharam boa parte dos acontecimentos de nossas vidas. Quando digo “nós” me refiro as cinco Pagus – as cinco garotas que juntaram a fome com a vontade de comer. Então, como parte das “festividades”, fui praticamente intimada a escrever este texto de comemoração: fato! Mas escrever para o De repente é sempre um prazer; às vezes um prazer carregado de subjetividade, e que por isso mesmo o torna maior. Assim...

Pensei em relembrar todos os momentos pelos quais o De repente passou, e isso significaria contar a história de cada uma das escritoras desse blog e suas peripécias durante esse 1 ano. No entanto, não podemos esquecer que a “mentora” de nós todas é Patrícia Galvão (Pagu): poetisa, revolucionária, esposa, mãe, artista, mulher. Entendemos que DE REPENTE, PAGU! é tudo isso. É a exclamação no fim da frase, é uma conversa sobre sei lá o que no meio da aula, é o sentir de modo diferente. O inesperado.

Foi com o intuito de compartilhar nossos textos mais escondidos, nossas experiências mais enriquecedoras, nossas paixões, amores e desamores que esse blog se fundou, porque nosso lema sempre foi escrever sobre tudo – de trabalhos acadêmicos á poesia da imagem. Tanto que, vocês leitores e amigos do De repente, acompanharam de perto nossas mudanças e nosso fluxo textual. É verdade que, outrora, nossa produção foi bem maior, mas é como já relatei tempos atrás: nossas vidas ficaram bastante atribuladas e, algumas de nós, não estão podendo postar seus textos como era costume. Todavia, isso não quer dizer que paramos de produzir; pelo contrário! O que falta é “tempo” para postar as novidades.

De forma despojada, mas ao mesmo tempo preocupada com o conteúdo é que se faz a escrita do Pagu – como é chamado pelos mais íntimos. Não pense você, minha cara leitora, que esse blog é lido apenas por garotas! Não, não. Nossos maiores incentivadores são homens: os que passaram por nossas vidas, os que são amigos e os que vêm dar aquela espiadinha e acabam ficando. Sim, acreditem! Também a mudança é bem vinda. Assim nos infiltramos no mundo dos caça-talentos e, caso você queira dividir suas produções com o mundo, nos comunique; estamos sempre dispostas a enriquecer o Pagu e a conhecer (ou reconhecer) esses novos (e às vezes nem tão novos) talentos. Todos serão apreciados!

O De repente, Pagu! se orgulha em ter partilhado com você aí do outro lado da tela – do outro lado do mundo ou do outro lado do muro – esse 1 ano. Foram muitas as mudanças; algumas delas a olhos vistos, outras nem tanto. Mas aos poucos nós, juntamente às opiniões de vocês, faremos muito mais. Podem esperar, porque vem coisa boa pela frente! Afinal já mexemos e remexemos com a inquisição, morremos na fogueira e aprendemos o que é ser carvão. Somos pau pra toda obra e Deus dá asas a nossa cobra. Mas vá com calma, pois nossa força não é bruta, não somos freiras e nem putas!... Rainhas do tanque?! Talvez. Pagus indignadas no palanque, sempre. Temos fama de porra-louca, tudo bem! Também somos filhas de alguma Maria ninguém. É claro que às vezes parece o contrário, mas não somos atrizes, modelos ou dançarinas, e de fato o nosso buraco é mais em cima! “Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem”*.


Por Lívia de Oliveira

P.S.: parabéns para nós!!!! \o/

* Releitura da música Pagu composta por Rita Lee e Zélia Duncan, interpretada por Maria Rita.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Grande Pequena

Tenho certeza que tu nasceste no dia das crianças para ganhar brinquedo todos os anos, pois parece que não cresceste justamente para confirmar o meu argumento. Outro ponto curioso sobre teu nascimento é que tu vieste ao mundo justamente no dia de Nossa Senhora Aparecida, então foste mais abençoada ainda. Para quem foi nomeada de Lívia Maria, não é o primeiro nome que se destaca, apesar de a chamarmos a maioria das vezes assim. Só quem tem no nome a expressão da grande mãe sabe a responsabilidade de ser Maria, pois como Elis Regina, ao interpretar o Milton Nascimento cantava: "Maria, Maria é o dom/ uma certa magia/Uma força que nos alerta/Uma mulher que merece/Viver e amar/Como outra qualquer/Do planeta". E todos nós sabemos o quanto essa Maria sabe amar, pois várias vezes eu e muitos leitores esperávamos ansiosos os textos que nos faziam suspirar e refletir sobre este que é o mais doloroso e mais difícil sentimento, o amor. Ai... "*Nada nesta vida é mais difícil que o amor ". Mas nem só de amores essa moça vive, pois quem nasce sob o signo de libra tem a marca do luxo, do brilho e da noite. Quantas vezes não vimos o belo rosto maquiado dessa moça em festas ou o jeito charmoso de dançar todos os ritmos e o sorriso enorme de quem simplesmente tenta se divertir, pois a vida é muito cruel para vivermos, mas mesmo assim, vimemos. "Mas é preciso ter força/É preciso ter raça/É preciso ter gana sempre/Quem traz no corpo a marca/Maria, Maria/Mistura a dor e a alegria". Quantas vezes na pior da situações não ouvimos o mantra dela: "calma, tudo vai dar certo, fica tranquila, minha filha". Essa Lívia é mesmo a Maria cantada pelos Mil-tons. Ela possui a estranha mania de ter fé na vida....

Por Juliana Belo, mais uma vez representando o De repente, Pagu. Por nós quatro que amamos-te sempre.

Notas:
os trechos sobre Maria são da famosa canção de Milton Nascimento interpretada por Elis: Maria, Maria
*trecho de O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez
Lica, foi mal não ter ido à comemoração, mas você sabe que as forças ocultas não me deixaram ir. O texto é apenas um presentinho